quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O plano da OTAN é ocupar a Líbia

O petróleo se converteu na riqueza principal, nas mãos das grandes multinacionais ianques; através dessa energia dispuseram de um instrumento que acrescentou consideravelmente seu poder político no mundo. Foi sua arma principal quando quiseram liquidar facilmente a Revolução cubana, mal se promulgaram as primeiras leis justas e soberanas em nossa Pátria: privá-la do petróleo.

Alicerçada nessa fonte de energia teve seu desenvolvimento a civilização atual. A Venezuela foi a nação deste hemisfério que maior preço pagou. Os Estados Unidos se tornaram nos donos das enormes jazidas com a que a natureza dotou esse irmão país.

Ao finalizar a Segunda Guerra Mundial, começou a extrair maiores volumes de petróleo das jazidas do Irã, bem como das da Arábia Saudita, Iraque e os países árabes situados em torno destes países. Estes passaram a ser os fornecedores principais. O consumo mundial foi se elevando até a quantia fabulosa de aproximadamente 80 milhões de barris diários, incluídos os que são extraídos do território dos Estados Unidos, aos que posteriormente se somaram o gás, a energia hidráulica e a nuclear. Até começos do século 20, o carvão tinha sido a fonte fundamental de energia, que tornou possível o desenvolvimento industrial, antes que se produzissem bilhões de carros e de motores consumidores de combustível líquido.

O esbanjamento do petróleo e do gás é associado a uma das maiores tragédias, ainda não resolvido no absoluto, que a humanidade está sofrendo: a mudança climática.

Quando a nossa Revolução triunfou, Argélia, Líbia e Egito ainda não eram produtores de petróleo e boa parte das enormes reservas da Arábia Saudita, Irã, Iraque e os Emirados Árabes, ainda estavam por serem descobertas.

Em dezembro de 1951, Líbia se converteu no primeiro país africano a atingir a independência, depois da Segunda Guerra Mundial, tendo sido seu território palco de importantes combates entre as tropas alemãs e as do Reino Unido, que deram fama aos generais Erwin Rommel e Bernard L. Montgomery.

Mais de 95% do território líbio é desértico. A tecnologia permitiu descobrir importantes jazidas de petróleo leve, de excelente qualidade, que hoje atingem 1,8 milhão de barris diários e abundantes depósitos de gás natural. Essa riqueza lhe permitiu atingir uma expectativa de vida que chega quase aos 75 anos, e o mais alto ingresso per capita da África. Seu rigoroso deserto é situado acima de um enorme lago de água fóssil, equivalente a mais de três vezes a superfície de Cuba, questão que lhe permitiu construir uma ampla rede de tubagens condutoras de água doce que se estende pelo país todo.

A Líbia, que tinha um milhão de habitantes ao atingir a independência, hoje conta com algo mais de seis milhões.

A Revolução líbia teve lugar no mês de setembro do ano 1969. Seu líder principal foi Muammar al-Khadafi, militar de origem beduína, quem ainda muito jovem se inspirou nas ideias do líder egípcio Gamal Abdel Nasser. Sem dúvida, muitas de suas decisões estão associadas às mudanças que se produziram na altura em que, tal como no Egito, uma monarquia fraca e corrupta foi derrocada na Líbia.

Os habitantes desse país têm tradições guerreiras milenares. Fala-se que os antigos líbios fizeram parte do exército de Aníbal quando este esteve prestes a liquidar a antiga Roma com a força que cruzou os Alpes.

Pode-se ou não concordar com Khadafi. O mundo foi invadido por todo o tipo de notícias, empregando, especialmente, a mídia. Será preciso esperar o tempo necessário para conhecermos com rigor, o quanto há de verdade ou mentira. Ou uma mistura de fatos de todo tipo que, em meio do caos, se produziram na Líbia. O que para mim se torna evidente é que ao governo dos Estados Unidos não lhe preocupa minimamente a paz na Líbia e não vacilará na hora de dar à OTAN a ordem de invadir esse rico país, talvez em questão de horas ou em breves dias.

Aqueles que com pérfidas intenções inventaram a mentira de que Khadafi se dirigia à Venezuela, tal como fizeram na tarde de domingo 20 de fevereiro, receberam hoje uma digna resposta do ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Nicolas Maduro, quando expressou textualmente que "fazia votos porque o povo líbio encontre, no exercício de sua soberania, uma solução pacífica a suas dificuldades, que preserve a integridade do povo e da nação líbia, sem a ingerência do imperialismo..."

Da minha parte, não imagino o líder líbio abandonando o país, eludindo as responsabilidades que lhe imputam, sejam ou não falsas em parte ou na totalidade.

Uma pessoa honesta sempre reagirá contra qualquer injustiça que seja cometida contra qualquer povo do mundo, e o pior disso, neste instante, seria guardar silêncio diante do crime que a OTAN se prepara para cometer contra o povo líbio.

A chefia dessa organização bélica quer fazê-lo com urgência. É preciso denunciar isso!

Fidel Castro Ruz

21 de fevereiro de 2011

22h14

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Hipocrisia estadunidense no Oriente Médio

Algo tem que mudar para permanecer o mesmo



Paul Craig Roberts [*]


A hipocrisia do governo dos EUA foi mais uma vez irrefutavelmente demonstrada. O governo dos EUA invadiu o Iraque e o Afeganistão, arrasou grande parte desses países, aldeias inteiras e cidades, e massacrou um elevadíssimo número de civis para “levar a democracia” ao Iraque e ao Afeganistão. Agora, depois de os egípcios terem estado dias inteiros nas ruas a exigir que “Mubarak se vá”, o governo dos EUA mantém-se alinhado com o seu governo títere egípcio, inclusive sugerindo que Mubarak depois de dirigir um Estado policial durante três décadas é a pessoa apropriada para implementar a democracia no Egito.

Em 30 de Janeiro, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton declarou que os EUA da “liberdade e da democracia” não procuram nem apoiam a derrubada do ditador egípcio. O primeiro-ministro israelense, Netanyahu, disse aos Estados Unidos e à Europa devem limitar as críticas a Mubarak, a fim de “preservar a estabilidade na região”.

Quando Netanyahu diz “estabilidade” quer dizer a ilimitada capacidade de Israel continuar a oprimir os palestinos e a roubar o seu país. Mubarak foi ao longo de três décadas o mais bem pago agente dos EUA e de Israel, isolando a Faixa de Gaza do resto do mundo e impedindo que a ajuda flua através da fronteira egípcia: Mubarak e a sua família tornaram-se milionários graças ao contribuinte estadunidense e o governo dos EUA, republicano ou democrata tanto faz, não quer perder o seu vultoso investimento em Mubarak.

Há já muito tempo que o governo dos EUA corrompeu governos árabes, pagando aos governantes instalados para representarem os interesses estadunidenses e israelenses em vez dos interesses dos povos árabes. Os árabes aguentaram a opressão financiada pelos EUA durante muitos anos, mas agora mostram sinais de rebelião.

O ditador assassino da Tunísia, aí instalado pelos EUA, foi derrotado pelo povo que saiu para as ruas. A rebelião alargou-se ao Egito e também há protestos nas ruas contra os governantes apoiados pelos EUA no Iêmen e na Jordânia.

Estes levantamentos poderão ter êxito e derrubar os governantes títeres, mas será o seu resultado mais do que a substituição de um governante títere dos EUA por outro novo títere? Mubarak poderá partir, mas qualquer outro que ocupe o seu lugar provavelmente ficará atrelado à mesma subordinação aos EUA.

O que os ditadores fazem é eliminar lideranças alternativas. Os líderes potenciais são assassinados, exilados ou presos. Além disso, tudo o que não seja uma revolução genuína, como a iraniana, deixa no seu lugar uma burocracia acostumada a que as coisas continuem na mesma. O Egito e os militares deste país se acostumaram ao apoio dos EUA e querem que o dinheiro continue a fluir. O fluxo desse dinheiro é o que assegura a compra do governo do turno que se segue.

Como o dólar estadunidense é a moeda de reserva do mundo, o governo estadunidense tem o domínio financeiro e a capacidade de isolar economicamente os outros países, como acontece com o Irã. Para se libertar das garras dos EUA teria que acontecer uma de duas coisas: a revolução teria que varrer o mundo árabe e daí resultar uma unidade econômica que fomentasse o desenvolvimento autônomo, ou o dólar dos EUA fracassar como moeda de reserva mundial.

A falta de unidade árabe foi desde sempre o meio pelo qual os países ocidentais dominaram o Médio Oriente. Sem essa desunião, Israel e os EUA não poderiam abusar dos palestinos da forma como o fazem e sem essa desunião os EUA não poderiam ter invadido o Iraque. É pouco provável que, de repente, os árabes se unam.

O colapso do dólar é mais provável. A política do governo dos EUA de maximizar os déficits orçamental e comercial e a política da Federal Reserve [Banco Central dos EUA] de monetarizar o déficit orçamental e os ativos de papel fraudulento dos grandes bancos, fazem com que o dólar caminhe para o seu desaparecimento.

À medida que cresce a impressão de dólares diminui o seu valor. Talvez não esteja longe o dia em que os governantes deixem de vender os seus povos em troca de dinheiro estadunidense.

[*] Ex-secretário adjunto do Tesouro na administração Reagan. Foi editor associado da página editorial do Wall Street Journal e editor colaborador na National Review.