Lembram-se do longínquo ano de 2003? Pois
foi neste ano que iniciou e terminou o 2° conflito entre as forças militares
dos Estados Unidos e Iraque. O primeiro encontro fora em 1991, mas naquele ano
Saddan Hussein ainda não havia sido retirado do poder, o que ocorreu em 2003.
Ao findar deste conflito, ainda em fins de Março de 2003 o Secretário de Estado
dos EUA na época, Colin Powell, afirmou que o próximo alvo seria a Síria,
afirmação esta que causou o toque do alerta militar na Síria (vizinha do Iraque).
A Síria tem um histórico de afirmação como
país anti-imperialista, desde sua independência em 1946 o país tem se
organizado de forma independente. A partir de 1970 sua politica historicamente conturbada
entra em uma fase de estabilidade com a subida do poder de Hafez al-Assad, um
nacionalista que investe em poderio militar e crescimento da influência síria
em assuntos ligados ao Pan-arabismo (é um movimento político tendente a reunir
os países de língua árabe e de civilização árabe numa grande comunidade de
interesses) o que acarreta inevitavelmente no enfrentamento a Israel, Estado
criado por decreto via ONU em 1948, e que tinha seu território encravado em um
local santo tanto para a religião Cristã quanto Muçulmana. A Síria se envolveu
em 3 conflitos de grande monta com Israel: A Guerra de Independência de Israel,
A Guerra dos 6 dias e a Guerra de Ion Kippur.
Na Guerra dos 6 dias a Síria perde as
Colinas de Golã para Israel e com isso se cria um litígio que dura até os dias
de hoje.
Acima imagem de noticia veiculada ainda em 2003, durante a administração Bush e logo após o conflito no Iraque.
Anti-imperialismo_ A
Síria tem apoiado, desde o fim do conflito de Ion Kippur, a causa palestina,
financiou e sediou escritórios da Organização
para a Libertação da Palestina (OLP), e financiou a facção FATAH, a mais ativa
das facções da OLP e que era chefiada por Yasser Arafat. Tal poio custou até mesmo um micro conflito
com Israel, por este ser o país que com base no pensamento sionista (é um
movimento político e filosófico que defende o direito à autodeterminação do
povo judeu e que é determinante para justificar as barbáries contra o povo
palestino) oprime e mantém sem pátria milhões de palestinos que são obrigados a
viver sob a falta de víveres básicos, serviços como água e até mesmo saúde são
precários devido ao bloqueio de Israel. Além disso, há revistas militares e
abusos de todo o tipo.
É neste cenário que Israel ataca posições
sírias no sul do Líbano em 1982, no que ficou conhecido como a Batalha do Vale
do Bekaa. Onde a aviação israelense bombardeia posições do exército sírio para
abrir caminho para ataques a bases da OLP.
A
Síria também é um aliado estratégico do Irã na região, pois ajuda a manter a
Guerrilha libanesa Hezbollah, que mantém hospitais, escolas e outros serviços
básicos para a população do sul do Líbano. (território controlado pela
organização). Lembremos que o Hezbollah apoia a causa palestina e já conseguiu heroicamente
repelir uma invasão israelense (mesmo com as IDF contando com muito mais poder
bélico) em um conflito de curta duração
ocorrido em 2006.
A Síria é o ÚNICO PAÍS ÁRABE da região
onde se respeitam todas as religiões, onde a minoria cristã é respeitada, onde
os partidos comunistas são legais e não há perseguição. Na síria se mantém a
liberdade ás mulheres, lá elas têm o direito de ocupar qualquer posto de
trabalho e de vestir-se de acordo com sua crença e vontade. Lembremos o
ocorrido na Líbia e Egito. Na Líbia de Kaddaf as mulheres, negros e minorias religiosas eram respeitadas, o país
tinha o maior IDH de todo o continente africano, superando até mesmo o país dos
estádios modernos construídos para a Copa do Mundo, a África do Sul. Logo após
os ataques imperialistas do Ocidente a Líbia ficou entregue a fundamentalistas
religiosos, ficou entregue ao racismo ( perseguição a minoria negra, pois muitos lutaram ao lado das forças de
Kaddaf ) e ao machismo religioso que submete mulheres a semi-escravidão.
No Egito observamos a derrocada de um
ditador aliado dos Estados Unidos, a subida ao poder de fundamentalistas via
uma eleição sem bases democráticas e logo após outro golpe do exército egípcio e
consequentemente a retomada do poder pelos aliados dos Estados Unidos.
No atual momento sírio a Coréia do Norte
enviou oficiais do seu exército para auxiliar tecnicamente as forças sírias em
campo de batalha. ( Imaginem a reação norte coreana em caso de morte de
oficiais de seu exército em caso de bombardeio ocidental ! )
Coréia do Norte em sua ação internacionalista contra o imperialismo envia oficiais para dar apoio técnico.
Estratégia russa_ A
Rússia mantém boas relações com os sírios desde os tempos da saudosa União
Soviética, fora a URSS que fornecera o armamento para que a Síria equipasse seu
exército e enfrentasse Israel. Essas boas relações em comércio de armas se
mantém, mas vão muito além disso. Há cooperação técnica em indústria, agricultura e tecnológica.
A Rússia de Putin quer mostrar que não mais
vai aceitar as arremetidas da OTAN em o que considera o seu “espaço básico de
influência geopolítica”. Essa nova forma
de agir (pois a Rússia logo após o fim da URSS se tornou banco de negócios e de
roubos empresariais além de perder a influência geopolítica global) teve como
ponto máximo a Guerra da Geórgia em 2008, onde as forças russas interviram em
defesa de uma minoria da região separatista do norte georgiano que foram
atacadas pelo exército georgiano. Neste ocorrido os EUA e OTAN focaram inertes frente
a ação russa, apenas ficaram restringidos a apelos e protestos pelo fim das
hostilidades.
A Rússia mantém, desde os tempos
soviéticos, um porto estratégico na costa síria, o porto de TARTUS. Onde fica
sediada uma frota de navios e todo o aparato de reparos e reabastecimento dos
navios da frota russa. Lá se encontram também batalhões de forças da marinha
russa. A Rússia não mostra nenhuma intenção de perder tais instalações ou até
mesmo de perder sua influência local e na região. Os próximos passos da Rússia
no andamento da tensão que antecede o conflito podem ser determinantes em sua
imagem como potência global.
Acima o Porto estratégico de TARTUS, na Síria, sob comando russo.
Gasoduto_ A
Síria tem um PIB pequeno, gira em torno de 18 Bilhões de Dólares. Seu PIB é
baseado em produção agropecuária 25%, indústria 27,7 % e principalmente em
serviços 46,2 %. É um país que sobrevive muito pelo turismo. Mas está assentado
sobre uma boa reserva de gás natural, e está sediando a construção de um longo
e estratégico gasoduto que ligará a Síria ao Irã, o que é determinante para os
interesses chineses, ávidos por energia para sustentação da “fome” de sua
economia industrial crescente.
Tais investimentos são de interesse também
de nações vizinhas que querem competir à liderança econômico/industrial e ideológica
na região com o Irã.
Entre os países
interessados em uma ação imperialista na Síria estão a Arábia Saudita e Qatar.
Justamente os dois países que financiam as forças de oposição ao regime de
Assad. A Arábia saudita ( principal exportador de petróleo cru no Oriente
Médio) não se interessa em um gasoduto que possa levar mais recursos ao regime
aliado de Assad, o Irã, pois não lhe interessa um país forte militarmente e que
seja oposição ideológica a seu regime. Como também o Qatar que é pequeno mas
disputa a liderança ideológica na região, pois lembremos que a rede de televisão
Al Jazeera é sediada em seu país.
Gasoduto que ligará a Síria ao Irã.
Mas o
financiamento da oposição síria não esta somente a cargo destes dois países. A
França admitiu ter enviado armamento e até mesmo rádio comunicadores de última
geração a oposição, os EUA e OTAN financiam e armam a oposição, criam um
falseado discurso de que a oposição é popular e libertária, quando na verdade
são fundamentalistas locais e estrangeiros que entram na síria via fronteira
sírio/saudita e são arregimentados para a desestabilização do regime de Assad
que tem o apoio de grande parte da população como também de forças anti-imperialistas
aliadas como o Hezbollah e do Partido Comunista Sírio e demais organizações
socialistas e progressistas locais.
Guerrilha do norte da Síria que combate junto com o exército sírio de Assad os mercenários a mando da OTAN. VIVA A RESISTÊNCIA SÍRIA !!!!
Comunistas sírios na resistência ao ataque imperialista dos Estados Unidos e OTAN.
Guerrilha do norte da Síria que combate junto com o exército sírio de Assad os mercenários a mando da OTAN. VIVA A RESISTÊNCIA SÍRIA !!!!
Ocorre na Síria o mesmo que ocorreu na
Líbia: o financiamento de grupos oposicionistas ligados aos levantes fundamentalistas
religiosos que desrespeitam o Estado Laico, a facilitação da entrada de
mercenários transnacionais, o contrabando de armas para armar tais grupos, a
difamação do governo local a ponto de justificar uma guerra e por fim a
reconstrução do capital destruído com pomposos contratos a empresas dos países
invasores e roubo das riquezas materiais. Ganho de novo espaço geopolítico de
influência e consequente diminuição da influência das demais potências
oposicionistas.
Estamos até o presente
momento em que escrevo este artigo na fase de difamação do governo local para
justificar uma ação militar. No caso
foram usadas imagens de um suposto ataque com armas químicas contra a população
civil, e que tal ataque teria sido perpetrado pelas forças de Assad. Tão logo
as imagens foram veiculadas nos grandes meios de comunicação mundiais e os
Estados Unidos se apressaram em dizer que a culpa fora do atual regime sírio e
que iriam realizar um “ataque humanitário” contra a Síria.
Acima: Mercenários estrangeiros fortemente armados na Síria.
Neste momento devemos lembrar-nos do
vexatório caso de desculpa para a realização dos ataques ao Iraque em 2003,
onde Colin Powell afirmava que o Iraque tinha armas químicas. . .
ATÉ HOJE NÃO ENCONTRADAS. . .10 anos depois!
A ONU já afirmou em episódio
parecido ocorrido na Síria pouco tempo atrás que não havia provas de uso de
armas químicas por parte das forças de Assad. Os inspetores da ONU ainda não se
pronunciaram sobre o atual caso. . . Mas ainda não há nenhuma prova.
ESTRANHAMENTE, e
CONTRADITÓRIAMENTE, se o problema é a utilização de armas químicas contra civis.
. . Por que os Estados Unidos, OTAN e a opinião pública (mais manipulável que
boneco de ventríloquo) não pediram imediatamente um ataque a Israel para conter
este crime contra a humanidade? . . . .
. . . . . . .
_____________________
20/01/2009
Israel reconhece uso de
fósforo branco em Gaza, diz jornal israelense