sábado, 12 de fevereiro de 2011

Hipocrisia estadunidense no Oriente Médio

Algo tem que mudar para permanecer o mesmo



Paul Craig Roberts [*]


A hipocrisia do governo dos EUA foi mais uma vez irrefutavelmente demonstrada. O governo dos EUA invadiu o Iraque e o Afeganistão, arrasou grande parte desses países, aldeias inteiras e cidades, e massacrou um elevadíssimo número de civis para “levar a democracia” ao Iraque e ao Afeganistão. Agora, depois de os egípcios terem estado dias inteiros nas ruas a exigir que “Mubarak se vá”, o governo dos EUA mantém-se alinhado com o seu governo títere egípcio, inclusive sugerindo que Mubarak depois de dirigir um Estado policial durante três décadas é a pessoa apropriada para implementar a democracia no Egito.

Em 30 de Janeiro, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton declarou que os EUA da “liberdade e da democracia” não procuram nem apoiam a derrubada do ditador egípcio. O primeiro-ministro israelense, Netanyahu, disse aos Estados Unidos e à Europa devem limitar as críticas a Mubarak, a fim de “preservar a estabilidade na região”.

Quando Netanyahu diz “estabilidade” quer dizer a ilimitada capacidade de Israel continuar a oprimir os palestinos e a roubar o seu país. Mubarak foi ao longo de três décadas o mais bem pago agente dos EUA e de Israel, isolando a Faixa de Gaza do resto do mundo e impedindo que a ajuda flua através da fronteira egípcia: Mubarak e a sua família tornaram-se milionários graças ao contribuinte estadunidense e o governo dos EUA, republicano ou democrata tanto faz, não quer perder o seu vultoso investimento em Mubarak.

Há já muito tempo que o governo dos EUA corrompeu governos árabes, pagando aos governantes instalados para representarem os interesses estadunidenses e israelenses em vez dos interesses dos povos árabes. Os árabes aguentaram a opressão financiada pelos EUA durante muitos anos, mas agora mostram sinais de rebelião.

O ditador assassino da Tunísia, aí instalado pelos EUA, foi derrotado pelo povo que saiu para as ruas. A rebelião alargou-se ao Egito e também há protestos nas ruas contra os governantes apoiados pelos EUA no Iêmen e na Jordânia.

Estes levantamentos poderão ter êxito e derrubar os governantes títeres, mas será o seu resultado mais do que a substituição de um governante títere dos EUA por outro novo títere? Mubarak poderá partir, mas qualquer outro que ocupe o seu lugar provavelmente ficará atrelado à mesma subordinação aos EUA.

O que os ditadores fazem é eliminar lideranças alternativas. Os líderes potenciais são assassinados, exilados ou presos. Além disso, tudo o que não seja uma revolução genuína, como a iraniana, deixa no seu lugar uma burocracia acostumada a que as coisas continuem na mesma. O Egito e os militares deste país se acostumaram ao apoio dos EUA e querem que o dinheiro continue a fluir. O fluxo desse dinheiro é o que assegura a compra do governo do turno que se segue.

Como o dólar estadunidense é a moeda de reserva do mundo, o governo estadunidense tem o domínio financeiro e a capacidade de isolar economicamente os outros países, como acontece com o Irã. Para se libertar das garras dos EUA teria que acontecer uma de duas coisas: a revolução teria que varrer o mundo árabe e daí resultar uma unidade econômica que fomentasse o desenvolvimento autônomo, ou o dólar dos EUA fracassar como moeda de reserva mundial.

A falta de unidade árabe foi desde sempre o meio pelo qual os países ocidentais dominaram o Médio Oriente. Sem essa desunião, Israel e os EUA não poderiam abusar dos palestinos da forma como o fazem e sem essa desunião os EUA não poderiam ter invadido o Iraque. É pouco provável que, de repente, os árabes se unam.

O colapso do dólar é mais provável. A política do governo dos EUA de maximizar os déficits orçamental e comercial e a política da Federal Reserve [Banco Central dos EUA] de monetarizar o déficit orçamental e os ativos de papel fraudulento dos grandes bancos, fazem com que o dólar caminhe para o seu desaparecimento.

À medida que cresce a impressão de dólares diminui o seu valor. Talvez não esteja longe o dia em que os governantes deixem de vender os seus povos em troca de dinheiro estadunidense.

[*] Ex-secretário adjunto do Tesouro na administração Reagan. Foi editor associado da página editorial do Wall Street Journal e editor colaborador na National Review.

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